Alan Moore disse uma vez que a avalanche de super-heróis na cultura é uma má notícia. De fato, o conceito de super-herói é antidemocrático. Um sujeito que age sozinho simplesmente porque tem poderes para isso, porque decidiu combater o mal, porque precisa de uma vingança para aplacar uma dor, uma perda?! Parece uma ideia ruim.
Quem decide o que é mal, o que deve ser combatido? Um exame rápido e percebemos que histórias sobre super-heróis são fábulas infantis modernas. O engraçado é que produtos desse segmento exploram essas questões muitas vezes zombando de si mesmos.
O que é antidemocrático acaba desaguando no fascismo. Alan Moore apontou o fato de que nesses tempos em que a extrema direita se ergue 6 entre 12 maiores produções cinematográficas são sobre super-heróis.
Essa crítica de Moore toma forma na obra de Garth Ennis, principalmente no caso específico de “The Boys”; onde ele explora o argumento segundo o qual o poder não traz uma vontade absurda de fazer o bem e promover a justiça a todo custo ( o que já é ruim), mas sim o desejo de dominar os mais fracos e a incapacidade de viver em sociedade, já que um super não precisa seguir regras. Se um super sai da linha quem vai puni-lo? Outro super? Ok, mas e se os super tiverem um acordo entre eles?
Super-heróis não existem, mas existem outro tipo de super. O super-rico. Um cara que pode ter um salário de quase um milhão de reais por mês e ser a inspiração para muita gente, ter seu rosto estampado em outdoors, ser ovacionado por centenas de milhares de pessoas admiradas ao testemunharem suas habilidades com a bola nos pés.
A imprensa cria um nome, uma marca. Atribui a ele um superpoder. Robinho, o rei das pedaladas.
Ele não é o único, infelizmente. A fama, o dinheiro e o sucesso tornam um garoto de origem humilde alguém grande demais para ser pego pela teia de aranha do arcabouço jurídico. Condenado por estupro na Itália Robinho foge para o Brasil onde ainda é o rei das pedaladas e só não joga pelo Santos porque os patrocinadores do clube não querem ser vinculados ao episódio que ganhou grande repercussão negativa.
É muito raro jogadores espetaculares serem cidadãos exemplares, a bolha do futebol fornece a eles um poder absurdo. O futebol fornece a algumas pessoas poderes absurdos. Muito do que garante uma democracia plena passa por impor limites ao poder dos cidadãos, das empresas, das instituições e de seus líderes. Quem acredita que ao participar de um ato repugnante como um estrupo coletivo pode sair ileso realmente não vai de encontro a instituições democráticas, o mais comum é que ele peça socorro a alguém que precise mais de fidelidade do que de princípios.
O nome do super mais inescrupuloso em The Boys é Capitão Pátria. Quando um super se viu enrascado por matar uma garota (o que dá início a adaptação da hq para uma série de TV) é ele quem articula uma maneira de tudo ficar bem para o assassino. Ele só precisa que ele continue sendo um aliado para a manutenção de seus interesses. Como alguém que protege um filho criminoso através de sua influência e poder recém adquiridos.
Por Fabiano Simões