“Medida Provisória” – Novo hit do cinema nacional
Lançamento em abril de 2022 com estreia de Lázaro Ramos na direção
Eu amo meu país, eu amo o Brasil. Mas tem hora que dá vontade de odiar com uma força…
Medida Provisória (filme)
O cinema nacional, apesar da resseção cultural destes últimos três anos, está emergindo com nomes que unem crítica social e criatividade, com muito talento e arte, como não vemos há algum tempo. Com as tensões de um país em crise, filmes como “Medida Provisória” (2022) tem um efeito colateral benigno, o de usar a arte como meio de reflexão das nossas mazelas, e neste “Novíssimo Cinema Brasileiro”, conta com filmes notórios do gênero: “Trabalhar Cansa” (2011), “As Boas Maneiras” (2018), “Morto Não Fala” (2018), “Bacurau” (2018), “Casa de Antiguidades” (2020), “A Nuvem Rosa”(2020) e Marighella(2021). “Medida Provisória” é o novo integrante deste segmento. É o filme de estreia de Lázaro Ramos na cadeira de direção, baseado na peça “Naníbia, Não!” (2009) de Aldri Anunciação.
A ficção acontece em um futuro brasileiro próximo. O governo desastrosamente tenta criar uma reparação – seja social, seja econômica – para compensar os anos de escravidão, várias tentativas foram feitas e falharam. A solução foi realizada por meio de uma medida provisória que obriga todas as pessoas negras do país a serem levadas imediatamente de volta para a África.
O longa de Lázaro Ramos para um futuro, (pasme!),“absurdamente próximo”, eleva à potência máxima uma pequena faísca opressora que já se instalou em nosso país. É claro que o projeto aprovado e entregue pelos políticos com a “boca cheia de dentes e sorrisos” está muito longe de uma reparação, mas, apenas uma medida direta de higienização social, a fim de deixar o Brasil um país de brancos – como antes da escravização negra. E, ainda, não nos esqueçamos de que o país era, originalmente, povoado por índios e não por brancos.
A premissa do roteiro é mais do que estimulante – é difícil ler a sinopse e não querer sentar na poltrona, no “escurinho do cinema”, durante os 103 minutos de filme, não tendo uma enorme vontade de saber como essa utopia negativa se desenvolverá, principalmente quando é comparada com fenômenos midiáticos como a série “Black Mirror” (2011-) e o vencedor do Oscar “Parasita” (2019).
Ultimamente ando com um debate interno – “Seria uma função do Cinema, uma exposição claríssima e sem resquícios de dúvidas sobre o bem e o mal, o certo e o errado? É obrigação do cineasta julgar atitudes problemáticas de seus próprios personagens, para não fomentar na realidade pessoas como as da tela? Acho que deve haver responsabilidade na arte sim. O posicionar do cinema frente às demandas sociais objetivas são fundamentais. Entretanto, penso que o Cinema não deva ser como uma “Escola”. Em “Medida Provisória”, o efeito da linguagem cinematográfica é educacional, é tudo tão revelado que se torna didático. No entanto, é evidente a importância de toda a mensagem, por mais mastigada que ela seja. Contudo, penso que o filme não vai atingir a quem deveria, afinal, a massa reacionária do nosso país evitará ferrenhamente qualquer conhecimento da obra. Enfim, independente disso, qualquer tipo de linguagem de arte que objetive denunciar o preconceito e a intolerância racial tem grande importância. E por mais cansativo e maçante que seja para as pessoas negras, ainda em 2022, ter que lutar por essa causa, infelizmente, é realidade, é pauta atual de luta, sim! Portanto, enquanto houver uma necessidade, a mensagem contra todo tipo de preconceito e segregação deverá ser dita para todos os cantos.
A importância de uma obra como “Medida Provisória” não dá para ser diminuída, principalmente no Brasil atual, mergulhado em conservadorismo, fascismo e repressão. Apesar disso, o Cinema como arte não vive de boas intenções, e o roteiro do filme fica raso, sem mergulhar profundamente nas questões raciais, na intenção de facilitar ao máximo a assimilação das massas, enfraquece o impacto de algo que poderia ser enorme. Com frases de efeito e poemas que anulam a naturalidade, tornando a obra simplória, o que poderia ser um dos melhores filmes do ano. De qualquer forma, é lindo ver salas de cinema lotadas com um longa nacional que discute o racismo. Porém, vale ressaltar a cena – quando o cantor, letrista e ator, Emicida, como Berto, tira das mãos de um personagem uma arma e entrega ao mesmo um livro – é a constatação da linguagem simplista e pouco sutil de um roteiro com possibilidades de ser um “Quebrando o Tabu”. Mas, mesmo assim, imperdível; no mínimo, incomoda uma sociedade preconceituosa e intolerante.
Por Andréia de Oliveira
Leia mais colunas de Andreia de Oliveira, sobre outros filmes. Acesse o link abaixo:
https://libertasnews.com.br/category/sala-de-cinema/
Bons filmes e arte na vida sempre!
Ficha Técnica
Bibliografia:
www.planocrítico.com/medida-provisória
www.uol.com.br/racismo-e-brasil
www.portalitpop.com/2022/04/crítica-medida-provisória
3 Comments
Parabéns, Andréia! Comentários pertinentes sobre o filme. Tanto no tocante as críticas sociais que ele apresenta quanto à sua estética e linguagem. Novamente você brilhou! Estou na espera do próximo!👏👏👏
Parabéns, Andréia! Comentários pertinentes sobre o filme. Tanto no tocante as críticas sociais que ele apresenta quanto à sua estética e linguagem. Novamente você brilhou! Estou na espera do próximo!👏👏👏
Obrigado Fátima. O Portal Libertas agradece sua particiapção.